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Bichanos em Istambul


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Conversa #5

Kedi (Ceyda Torun, Turquia, 2016)

Istambul detém relação histórica muito própria com gatos. Eles estão por toda parte, são venerados por crianças, adolescentes, adultos jovens e velhos, como se testemunha nos 80 minutos deste filme charmoso. A cidade é repleta de platibandas, batentes, toldos, balcões, sacadas, parapeitos, alçapões, vãos, degraus, muretas, balaustradas, terraços, ancoradouros, píeres, tendas, quiosques; nichos sortidos, salpicados em diferentes níveis, que conformam um verdadeiro paraíso para bichanos. Um convite às acrobacias daqueles que sempre caem de pé. (Mas igualmente para os pedestres de certos bairros). Os istambulenses criam gatos como uma espécie de terapia ou arte cotidiana. Extremamente plástico e sinergético, este filme expõe a adequação da ex-capital do Império Romano do Oriente para abrigar uma vasta população desses animais a partir de sua costa, recortada pelas águas, e internando-se por ruas e becos absolutamente encantadores e que atestam essa metrópole turca como milenar encruzilhada de civilizações. A fotografia alterna entre aéreas, grandes planos gerais do Bósforo, supercloses dos bichanos, mas geralmente passa a maior parte do tempo no rés do chão: uma câmera inquieta, trilhando o pavimento à altura dos olhos de um gato. O espectador sente-se "em" Istambul, caminhando, fazendo estrepolias, tomando um café. Ou afagando um desses gatos. Ou ainda na pele deles, sendo afagado por aquela que toma um café. A agilidade felina está de par com a vivacidade dessa urbe tal como captada no filme, galgando para terraços e píeres, chegando a recantos de uma convivialidade ou intimidade insuspeitados: feiras, cafés na calçada, estúdios de artistas, interiores de casas, de pequenos barcos e pequenos comércios. Kedi poderia prescindir dos breves depoimentos dos donos e apreciadores de gatos e, ainda assim, seria um filme completo e compelente. Quem sabe até mais. (Talvez parte da felicidade de interação com esse mundo felino resulte da quase ausência de smartphones em quadro, mas isso só se nota depois, e não se sabe até que ponto foi uma decisão deliberada dos realizadores mantê-los mais ao largo. Pois, sabemos, eles são presença ubíqua em qualquer parte do mundo hoje em dia). Kedi assoma como um dos grandes documentários dos anos 2010, e numa linha e ritmo que sugerem a re-atualização das "sinfonias urbanas" da década de 1920.

O filme pode ser visto pelo serviço de streaming (pago) do Youtube. O treiler encontra-se aqui:

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