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Se Você Não Me Contar Primeiro


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Conversa #35

The Lovers (Azazel Jacobs, Estados Unidos, 2017)

O roteiro de certos filmes parece indicar que preferencialmente foram escritos para teatro. Não é tão simples esse argumento. Eles podem ter sido adaptados de peças. Mas, mais do que isso, um roteiro original pode funcionar como peça. No primeiro caso, temos o Carnage (Roman Polanski, 2011), o Long Day's Journey into Night (Sidney Lumet, 1962), as várias peças de Tennessee Williams transpostas para a tela, para não falar de Shakespeare. No segundo caso, que inclui alguns roteiros de Bergman, há este Os Amantes, que é o quinto longa de Azazel Jacobs.

A trama, minimalista, reduzida como no Teatro, vai por um casamento em crise de meia-idade. (Motivo mais que farto em comédias românticas, mas nem sempre tão bem conduzido quanto aqui). Ambos mantém affairs paralelos. Ambos hesitam um bocado na hora de contar ao outro. Ambos tentam segurar a onda quando da visita do filho e da candidata a nora. Ambos acabam contando, de alguma forma. O problema é que nesse meio termo a própria condição de risco pôs uma pimenta tão saborosa no abará, que indica a manutenção do casamento nem que agora de modo invertido: convertido em incendiário caso clandestino.

Então, se essa comédia diverte é sobretudo por dois fatores. Primeiro seu deslavado realismo e quase total ausência de glamour. É daqueles filmes em que a realidade não se parece com a realidade de um filme mais ou menos padrão, do tipo Sessão da Tarde ou Tela Quente. Mas é mais assemelhada à que se topa com ela, no meio da rua. Ou em visita a amigos. Ou no lobby de um hotel numa cidade estrangeira.

Segundo, porque há um ator que chama a câmera para si, tal seu carisma e capacidade de postar-se diante dela, brincar à frente dela. Seu nome é Tracy Letts, e, como autor de teatro, ele já ganhou um Pulitzer de Melhor Drama (2008). Mr. Letts está longe de ter qualquer atributo convencional mais clássico de um ator de cinema: beleza convencional, físico avantajado, um tipo característico, um tique, um sotaque. Além disso, encontra-se na ante-sala da velhice. E, ainda assim, sua performance é magnífica. A tal ponto que, a despeito de os demais não atuarem de forma nada desprezível, seu desempenho eclipsá-los. Inclusive à ótima Debra Winger.

Da proposta simples, de algo centrado na mise-en-scène, destoa um tanto o excessivo uso da trilha musical. Um uso mais parcimonioso teria parelhado com a escassez de pirotecnia numa produção assim, esparsa, tão a serviço de seu elenco. Um filme modesto, com motivo modesto, e excelentes resultados.

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