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Produzido Para o Planeta Errado


Conversa #39

The Space Between Us (Peter Chelsom, Estados Unidos, 2017)

Numa missão da Nasa a Marte, a comandante e única mulher a bordo (Janet Montgomery) viaja inadvertidamente grávida. Ela dá luz a um menino. Mas não resiste à circunstância, e morre no parto. A criança passa bem. Todo o filme gira em torno dessa circunstância, já que o prazo da missão estende-se por anos. Os executivos da Genesis --- empresa parceira da Nasa na empreitada --- discutem o que fazer: melhor revelar o acontecido ou manter segredo? Nathaniel Shepherd (Gary Oldman) é de opinião que se revele o ocorrido, mas é voto vencido.

Dezesseis anos após, o garoto nascido no espaço, chamado Gardner Eliott (Asa Butterfield) revela-se um talento em robótica, e um cientista em potencial. Nutre curiosidade a respeito da Terra e dos pais e forma seus próprios gostos. Mantém um contato, do tipo Skype, com Tulsa (Brit Robertson) uma garota do Colorado. E assiste a filmes, como Der Himmel Über Berlin (Asas do Desejo pt-Br, Wim Wenders, 1987). Uma cientista, Kendra Wyndham (Carla Gugino) torna-se praticamente sua mãe adotiva. Apesar da nostalgia da Terra --- planeta de seus pais --- o sentido de mundo de Gardner foi fundamentalmente consolidado na estação espacial de Marte. E nas saídas em um veículo espacial para visitar o túmulo da mãe. Do outro lado do espaço, sua "namorada" virtual, também desenvolve talentos: destaca-se em sua turma do secundário, toca piano, dirige uma moto e aprende a voar num biplano.

Por essa altura, a Nasa tem planos de trazer o garoto prodígio, nascido em Marte, de volta à terra. E conduzir algumas experiências. Mas não há consenso sobre suas chances de sobrevivência. Ainda assim, eles o trazem. Shepherd acompanha os esforços do garoto por se adaptar:

---Same bubble, different planet --- comenta Gardner resignado, durante o período de quarentena.

Depois que testes revelam sua inadaptabilidade às condições de vida na Terra, ele consegue escapar do Centro Espacial. Aplica-se, então, à busca do pai. Procura então a ajuda de Tulsa. Muita peripécia acontece. Mas sua saúde deteriora-se.

Esta fábula imaginativa, riscada a lápis para ser projetada na Sessão da Tarde, contada com certo glamour fotográfico, conta com performances corretas de Gary Oldman e Carla Gugino. Foi gravada em belas paisagens na Flórida e nas serras do Colorado. Porém foi também engendrada a partir de valores datados. É fábula para, no mínimo, uma década atrás: o protagonista é branco, do sexo masculino, parece heterossexual. Se o garoto fosse uma garota; ou se tivesse se apaixonado por alguém do mesmo sexo, as chances de ser um sucesso de crítica e público seriam um bocado maiores. Pois é isso que o mercado valoriza, de momento. No entanto, os roteiristas, demasiado straights na imaginação, deixaram passar essa oportunidade de mais ouro e colorido. E o filme foi pras cucuias, em termos de bilheteria.

Afinal, hoje em dia ninguém está muito interessado em seus motivos: gravidez, filho, maternidade, a condição de órfão, os casais straights. Mesmo que isso se passe no espaço sideral ou em outro planeta. Em nossa altura do campeonato, abortos, pets, filhos de pais do mesmo sexo e casais gays rendem melhor bilheteria. Não que esses motivos não sejam importantes, merecedores de cuidado e debate. Mas tampouco podem ser tomados como exclusivos. E este filme, em sua correção de entretenimento leve, quando muito deve satisfazer a espíritos ingênuos ou republicanos.

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